Ele parecia ser rico sim, muito rico pois, cara, ele não fazia nada, absolutamente nada. Apenas mandava. Pagava pra tudo. Não trocava nem uma lâmpada.
Quero crer - apenas quero- que por estas razoes tenha estragado a filha e a mulher. Ambas adquiriram esse hábitos somados a outros mais complicados ainda: Gastar a vontade, comprar na hora tudo que quiser, ter vergonha de olhar o preço da coisas e o pior de tudo, alimentar asco, repulsa, verdadeiro pavor de se relacionar tranquilamente com qualquer situação ou pessoa que sequer de que longe lembre pobreza, simplicidade, controle ou economia e, absurdamente, trabalho, sim, trabalho. Trabalhar e ter salários baixos, cumprir horários para elas coisa de pobre. Levar de casa uma marmita então, não ter dinheiro para todo dia comprar lanches de 20, 30 reais ou mais era o fim da picada. A sogra não anda de metro não, nem de ônibus. Apenas de táxi. A filha aprendeu assim e o neto também. Acho que foi a segunda vez na vida que andei de taxi, quando fui ao rio visitá-las pela primeira vez.
Quando morreu, deixou essa familia surpreendentemente, bem!! Pois minha sogra recebe 50% da pensão dele, o que para mim parece bastante pois ele era, nas palavras da sogra, metida e orgulhosa, "agente federal de classe especial". Rs. Uiiii. Que medo.. Mas pense numa família que gasta, e que nao tem limites. Esposa, filha e neto. Todos absolutamente se achando ricos e superiores? Note que ele deixou 50% da pensão. Que hoje deve somar algo em torno de uns sete mil reais por mês. Pouco? Claro que não, quer dizer, pra mim não. Pra elas uma miséria. ?!?!? Sim. Elas estavam acostumadas com muito mais.
. Talvez por nunca ter tido dinheiro a vontade, eu nunca pude nem sequer pensar em pagar alguém pra fazer qualquer coisa. Tive logo cedo que me habituar a fazer de tudo, a aceitar qualquer emprego para sobreviver e conviver com naturalidade com o mundo do trabalho com marmitas, onibus, acordar cedo, salarios simples. Humildade e simplicidade para mim eram, pois hoje ja não tenho tanta certeza disso, valores caros, aprendidos na dura labuta do dia a dia. Eu, ingenuamente, valorizava, isso tudo, via algo de belo, de épico ou heroico nesta vida proletaria. Meu mundo caiu quando me apaixonei pela filha do agente. No primeiro dialogo com minha sogra, a primeira afirmação, o primeiro choque de realidade ou irrealidade ou ainda de sul-realidade (até vi estrelinhas quando ouvi esta afirmação). , Quando , por telefone, em nosso primeiro dialogo, primeiro, soube quanto eu ganhava, mesmo sendo funcionário publico ela diaparou, sem perdão nem nenhum pejo: "não não não não não, ela não é pra você meu filho. Ela é patricinha, patricinha...".
Me senti perdido, absolutamente não entendia de onde vinha tanta certeza. Tanta arrogância, pensei ate que era brincadeira dela. Mas nao era. Meu mundo começava a desmoronar e o delaa tambem. Eu avisei pra ela que não, que nao ia desistir da filha dela pois, , a gente se amava, se amava demais. Isso nao impediu que a partir daquele momento eu comecasse a me achar desprezível.
Esse adjetivo se manifesta com força quando ao presenciar hábitos rotineiros delas me sinto envergonhado e assustado. Envergonhado por nao perceber nem conseguir manter o padrao de vida que elas herdaram, flagrantemente denunciando um homem muito diferente do ex sogro, diferença esta explicitada pela falta de recursos e da pequenez que isto causa; e assustado pela falta de controle de gastos delas que para fazer um furo na parede, chamam seu fulano. Tem que trocar uma lampada? Chama seu Sicrano. Putz.. haja dinheiro.
O problema é que aprendi com elas algumas coisinhas..Depois de tanto tempo trabalhando que nem louco percebi que eu também poderia descansar um pouco. Fazer um pouco menos. Ou pagar pra fazerem, que deveria me dar esse prazer, que isso nao era luxo, era viver bem.
Mas cadê o dinheiro? Não tem. Assim as coisas começaram a degringolar... o carro ta ali pra consertar ha mais de um mês. Consertei? Não. Paguei pra consertar? Não. Preferi andar de onibus, comprar uma bicicleta velha. Mundo mundo vasto mundo... Esqueci que no mundo delas, a aparencia tambem é fundamental.
Dai o jeitinho carioca de ser, desbocado, orgulhoso, metido e arrogante logo se manifestou na observação da sogra, e ouvi uma descricao de mim que numa outra situação talvez não, mas hoje dói como uma facada no coração: Você é pobre. Que merda. Muito pobre.
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