A paixão esta acabando. Infelizmente o que era muito divertido, comentar o mundo, o universo mental e cultural, a politica e o cotidiano dos cariocas esta desembocando em profundas decepções com as visões de mundo dominantes ali. De vez em quando já tendo a aceitar as razões que fizeram algumas pessoas que conheci por aqui dizerem que não querem pisar nunca mais no Rio de Janeiro. Foram vítimas em algum momento de uma explosão de furia, as vezes inexplicavel, quase sempre incompreensivel que tentarei demonstrar as origens. Vamos aos fatos: Com as olimpíadas chegando era de se esperar que o Estado do Rio chantageasse o governo federal, se achar melhor, reivindicasse mais alguma ajuda. Mas precisava ser daquela forma? Com o governador indo a público, sem nenhum pudor, decretando estado de calamidade bem nas vésperas de uma olimpíada?
Com um governador assim como esperar algum envolvimento afetivo dos funcionários públicos com a festa que estava sendo organizada? Que respeito, que carinho, que amor tem pela sua tão linda cidade os policiais que sitiam o aeroporto internacional com imagens mórbidas de violência insistindo em macular um lugar em que as pessoas são vistas como um povo pacífico e amigo, que brinca e é feliz?
E essa imagem é verdadeira. Quem desembarca aqui e principalmente no Rio sente logo de cara. Somos assim mesmo apesar do massacre midiático, do sensacionalismo barato da imprensa. Será que esse policiais não tem noção de que estão tentando destruir a alma do povo carioca? Talvez ate tenham, mas o modelo que vem de cima inspira essas torpezas. Mas felizmente como trata-se de estado de espirito, nem eles nem essa forma tosca de governo hão de apagar o brilho desse povo.
O alimento da contradição fica mais claro percebendo como os gestores pensam o povo carioca. Vejam a transolimpica, que deveria ser orgulho para o povo às suas margens, ela ficou pronta mas até as olimpíadas só vai usar a rodovia e o BRT dela quem tiver convite para os eventos e o staff dos jogos. Quando li isso não quis acreditar. Pensei, e o povo? Sei lá o que esses gestores malucos do Rio pensam mas esta claro a naturalidade com que segregam a própria população. Lembrou-me as castas indianas. Essas ai presepadas do prefeito. Aí a gente começa a entender porquê o carioca ser tão violento e reativo em suas posturas. É porque na medida da discriminação vem a reação. Um povo que vive numa cidade linda mas cuja situação econômica os obriga a serem serviçais dos turistas, a preservarem o melhor de sua terra ao visitante, de viverem discriminados pelo próprio estado que se encarrega de criar os muros a serem derrubados quando tenta na marra separar as pessoas nos espaços públicos no intuito de achar que assim preserva uma certa, sei lá, civilização em alguns locais seletos, normalmente os mais belos da cidade?Esse povo têm sim que olhar com ressentimento e alguma inveja um lugar onde, apesar de não ter a história nem a beleza do rio, e que talvez porisso mesmo que apareça esse tipo de discriminação tão descarada, tao latente. Onde a luta de classes tende a se dar entre classes e não entre castas.
Ta fácil de entender o que é viver no Rio. Um paraíso tropical, lindo e gostoso, mas com nervos a flor da pele. Uma palavra descuidada, uma situação de inconveniência qualquer já pode motivar uma explosão. Um paulista pro carioca nao é um turista. É um cara cheio de direitos, com ética dura, que num ambiente desses é fácil ser mal entendido. A fenomenal educação do povo carioca responde por uma necessária solidariedade entre iguais, entre o povo sofrido e discriminado do Rio de Janeiro. Utilizada como atrativo aos turistas é espetacular. Mas como paulista nao é turista... Difícil. Com certa naturalidade qualquer ação deste pode ser entendida como provocação que desperta uma ira contida turbinada pela convivência tranqüila com a violência... O resto será, talvez, apenas mais uma manchete numa página policial. Veja que são impressões colhidas de lá pra ca, ou seja , o olhar do carioca. Mas aqui em SP também existe discriminação. Olhe a diferença entre o metro que vai pro butantã e o que vai pro campo limpo. Logo uma boa reflexão a se fazer é a de um comentarista do Rio que diz que "não é o carioca que exagera nas mazelas, são os paulistas que não querem ver sua realidade." Será?
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