sábado, 13 de agosto de 2016

Vila Mimosa

Hoje estava olhando imagens sobre o Rio e  num artigo sobre o itinerário do trem bala que ligaria Rio a São Paulo, já chegando  perto do centro do Rio,, "Vila Mimosa". Nome bonito para uma vila e como nunca tinha ouvido falar nesse nome fui pesquisar. Fiquei surpreso pois ali  é a zona "oficial" do Rio de Janeiro. Mas olha que nome lindo... "Vila Mimosa". Se tivesse progredido a idéia o trem bala iria passar por cima da vila. Digitei Vila Mimosa no google e aí vários artigos. A zona é ali há uns 20 anos, desde que as primeiras garotas chegaram vindas do Estácio. Recém indenizadas pelo município, se uniram e compraram um galpão na praça das bandeiras, onde estão até hoje. Interessante num primeiro momento é notar que nome vila mimosa parece  não ter a ver com o lugar e sim com a atividade.   A economia local parece estar passando por uma crise. Os comerciantes  reclamam que foi-se os tempos do uísque de 20, 30 reais, que agora as pessoas tomam uma cerveja, latão, e já era. A crise bateu forte. As meninas dizem que tem chapado apenas quando tem  jogo do flamengo. Que os preços baixaram (mesmo nos jogos do Vasco o movimento não bomba)... A quem interessar, os quartos custam 20 reais em média e o programa 20 reais 20 minutos e 60 reais 60 minutos. Rs... Parece ser por minuto.. Estranhei, o que teria a ver uma coisa com outra, futebol com o movimento da zona? Pensei de início que a zona no Rio de Janeiro seria no centro, na região da lapa. Mas não era. Eu estava enganado. É perto do Maracanã e pela descrição de um dos artigos é um lugar antigo mas sem tradição nesta atividade. É que zona do Rio muda de endereço de acordo com os interesses do estado, da valorização imobiliária. Um desses artigos dizia que a zona já fora mudada até pra outro município (Duque de Caxias), mas voltou. Outro mostrou   um projeto de urbanização pensado pra ela, bolado por uma ong. Mas ninguém ousa defender abertamente a  formalização do trabalho ali exercido, apesar de ficar claro uma vedação total à prostituição infantil ali com o objetivo de se adequar à legislação, que por sinal não considera prostituição crime. Fiquei pensativo. Tem vários projetos sociais envolvidos com o cotidiano da prostituição desde projetos de cuidado com a saúde, passando por geração de empregos e profissionalização das meninas, até um sindicato das profissionais. Mas a arquitetura do local é feia e decadente. Será que o Eduardo Paes com sua modernidade visionária não conseguiria fomentar o belo ali também? Têm elementos pra isso. A rua e o comércio local já tem uma vocação cult, pois ali era e ainda é um reduto do rock no rio de janeiro, dos motoqueiros. Inclusive hoje eles temem perder essa identidade. Tudo a ver. Rock, rebeldia...aqueles loucos... Drogas...prostituição. Por favor, nao me venham com hipocrisia.. Cara, as drogas estão presentes em todo canto. Mas escondidas. Nesses locais ficam mais expostas. Isso não significa serem eles mais ou menos violentos. Significa apenas que existe uma permissividade maior. Uma menor intromissão  e maior tolerância do estado. Infelizmente faz parte da vida das prostitutas a utilização do álcool e das drogas para enfrentar o próprio trabalho. Mas esse artigo sofre pois o que quero realmente falar é o seguinte. Porra, porque as pessoas não aceitam com naturalidade a prostituição? Sei lá... Eu acho que cada um cada um. Se existe esse trabalho se existe essa demanda deveria existir uma política pública para apoiar as pessoas dela participantes  e criar segurança e bem estar para suas atividades. A área da zona deve ser revitalizada e mantida sua vocação. Isso também facilmente vira uma atracão turística como tudo no rio. A zona também deve ser bela. Até porque, até ali, 85% das pessoas ocupadas são afrodescendentes. Pois é... Vila Mimosa e Madureira tem algo em comum. O mesmo povo. E temos pensar em nosso povo, onde quer que esteja, e nas devidas compensações históricas e sociais a serem reclamadas. Se Amsterdã  tem suas vitrines e Paris seus cabarés, o Rio tem Vila Mimosa, afirma a coordenadora do observatório da prostituição, da UFRJ, Soraya Silveira Simões e eu concordo plenamente. Assim, com igualdade, respeito e valoração deve ser vista e tratada Vila Mimosa.

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