Bom, concluída a reforma da casa, meia boca mas ficou legal, era hora de seguir o plano. Trazer a sogra pra cá e tentar convencer ela a vir morar aqui. Meu amor todo empenhado. Foram marcadas várias datas e ela sempre achava uma desculpa pra não vir, até chegar o ano novo. Meu amor viria de qualquer jeito pois eu tinha passado o natal no rio. Ou ela vinha ou ia ter que se virar sozinha. Como ela não gosta de fazer nada mesmo, resolver vir. Familia, festa, praia, sol, churrascos e paparicos o tempo todo. Ela adorou, eu nem tanto e meu amor menos ainda. Ficamos o tempo todo cuidando da velha, preocupados com ela. Mas pelo menos ela gostou e disse que viria passar o carnaval aqui. Alegria do meu amor e minha. Ebaaaa. Ela aprovou. Quer voltar.
Mas...meu querido irmão com sua boca aberta pra chamar atenção falou pro meu amor: - Carnaval aqui chove...
Pronto...ela enfiou isso na cabeça e ja ficou logo cismada. Janeiro inteiro lá fui eu tentando explicar que não era nada disso. Podia até chover, mas não seria nada demais. Afinal aqui é sudeste, o clima é mais ameno, tanto que dá pra passar bem sem o ar condicionado. Bom, elas decidiram vir, e como era costume fui busca-las na rodoviária em santos. Primeiro problema: Tive que ir com o carro velho que não aguenta uma gota d'agua que para. Meu padastro não quis emprestar o carro bom dele. Disse que elas podiam muito bem vir de ônibus.
Assim abre-se uma dos mais tristes episódio de nossa história.
Quando sai daqui, começou a chover. Mas não uma chuva qualquer, foi uma chuva forte e firme que foi aumentando na estrada e virou um pé d'agua. Eu morrendo de medo do carro parar ja na ida e foder tudo. Já pensando em como fazer, pedir pra elas virem de taxi? Pegar o ônibus?
Os nervos à flor da pele. Engarrafamentos..
Chuva..
Acidente na pista...
Mas fui indo. Só não cheguei atrasado porque elas estavam enfrentando o mesmo, chuva e engarrafamento na rodovia. Já estavam chegando também estressadas.
O carnaval não estava começando bem. Quando cheguei à rodoviária, com medo do carro não ligar mais, deixei ele ligado o tempo todo enquanto esperava elas chegarem, o que se deu meia hora depois. O desembarque foi devagar. A velha como sempre cheia de frescura fazia tudo muito devagar. Anda devagar, senta, espera, vai no banheiro, enrola.
E eu tendo que disfarçar a tensão, o medo do caminho de volta, de não conseguir chegar em casa e ficarmos presos no meio da água pelo caminho afora.
E dá lhe água.
Mas, sou brasileiro e do homem é a coragem.
Com o motor do carro quase pegando fogo de quente, começamos a viagem de volta. Não parava de chover. Em santos aquela película de 10 cm de água por cima das ruas. ..muita água. Com o carro acelerado e velocidade baixa, todo cuidado era pouco pra não deixar nem o carro morrer nem água entrar na alimentação do veículo. Cara que treta. E tendo que fingir tranquilidade e alegria pra velha. Foi um dos dias mais tensos de minha vida.
O momento pior foi ao chegarmos ao acesso da imigrantes via pontilhão de São Vicente. Quem conhece sabe, aquela região toda é muito baixa e antes do pontilhão mais ou menos um kilometro a água já quase cobria metade da roda. Não dava pra ver o meio fio nem o canteiro central. Na verdade seguia o fluxo do trânsito por puro instinto. No meio da água, baseado na memoria de como era o caminho.
Nem meu amor nem a sogra jamais tinham visto tanta água. E acho que nem eu também.
E os comentários negativos ja começaram, -Quanta chuva, né..... falou a velha e foi eu apagar o incendio, - chuvinha forte de verão, logo passa.... e meu amor, - é , bem que seu irmão falou...
Putz...as coisas ja comecaram a desandar.
Bom no pontilhão o momento crucial. Passar ali seria o maior desafio. A base dele embaixo d'agua, ao subir uma subida íngreme e uma descida também e do outro lado, além de baixo uma buraqueira danada na rua. Poucos carros se arriscaram..eu não tinha escolha. Acelerei o carro e fui. Seja o que Deus quiser. La em cima olhei pra baixo, vários carros parados no meio da água e uns poucos atravessando pela contra mão, evitando a buraqueira e cortando um caminho que encurtava o acesso à rodovia. Segui esse rumo. Não consigo esquecer a tensão nesse momento. A água dava na porta do carro muita água.. eu apenas seguia o carro da frente. Nadavamos no aguaceiro. E...50 metros depois.. passamos.. milagrosamente atingimos a rodovia.
Glória a Deus nas alturas. Nunca fui tão grato a deus como nesse dia. Na pista já não tinha mais tanto perigo. Eu era bom nisso. Meter o pé, 100 por hora na chuva rasgando o lencol dagua e abrindo o trânsito. O carro tava pesado e firme. Vim embora. Choveu até aqui.
E choveu, o carnaval todo. Depois de passar dores tentando sambar na avenida, de passar uma semana ou mais de chuva, a velha nao via a hora de ir embora. Nada de praia, carnaval horrível. Lugar horrível, nunca mais quero vir aqui. Assim terminou o carnaval para minha sogra. Foi horrível mesmo. Várias vezes tive que empurrar o carro... a gente enfurnado em casa, eu e meu amor sem nenhuma privacidade. E a velha reclamando o tempo todo.
É fodeu tudo. Acabou o sonho. E foi isso que se deu. Ela foi embora jurando nunca mais pisar aqui.
Todo nosso planejamento, nosso cuidado, nosso esforço foi por água abaixo nesse carnaval. Itanhaem chove pra caralho. Demais. Oh lugar que chove. Que merda.
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sexta-feira, 15 de abril de 2016
As visitas da sogra.
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