Ta. Ela reclamou, reclamou mas veio pra Itanhaém, fomos sair, desta vez de ônibus. O carro estava quebrado. Poderíamos ir a pé, dava só uns quarenta minutos ate a praia, mas preferi o ônibus pra ela ver o menos possível a paisagem deste "lindo" bairro. Fomos pra esquina da antiga padaria do Geraldo e só no meio do caminho lembrei da recomendação da mãe lá bem no começo de nosso namoro, "não ande com ela pelo oásis, evite ao máximo andar com ela por aqui, meu filho, senão você perde sua namorada". Me recriminei por minha falta de cuidado e de memória. Quando chegamos no ponto, ela já tinha colhido as impressões. Percebeu que este lugar parecia com a favela do Para Pedro no Rio, lugar horrível, e que o amor é complicado pois de tao apaixonada ela não percebera antes que eu não morava numa comunidade, morava numa favela mesmo. E eu no ponto torcendo pro ônibus chegar logo. Mas nada, ele demorou... Aqui os ônibus não cumprem os horários quase nunca e nas temporadas e nos fins de semana piora. Alem de com sorte passarem de hora em hora, o que ja é um absurdo, ainda tem os engarrafamentos pra ajudar. Demorou uns 70 minutos enquanto ela comentava que na terra dela tem um ônibus atrás do outro. Que não se perde tempo no ponto, que isso, que aquilo... E eu vendo estrelinhas... O ônibus veio, vazio, como sempre. Acho que as pessoas desistem de esperar e tentam outras soluções. Embarcam naquele ônibus velho, barulhento, empoeirado e sujo e fomos pra cidade. Ela estranhou.. O ônibus não tinha ar condicionado... Dois era.. Mas alívio.. Parecia que eu estava saindo de inferno.
Graças a Deus tinha aquela lanchonetezinha chique na rua da prefeitura pra ela tomar café. Lá eles servem uns salgadinhos folheados que ela adora, combinando com aquele capuccino mega estiloso fica show. Se acalmou, depois de mais um doce na outra lanchonete e muitas fotos, o ambiente estava melhorando. Fomos a praia.. Mais fotos. O quiosque preferido com cerveja boa e gelada, camarão acebolado..hummm, o quiosque moai, muito bom. A seleção de músicas que ele tocam ali é maravilhosa... Black, reggae e boa MPB. Delicia. Fotos no mar, aquela foto tão tentada saiu, a foto jogando agua pra cima. Uma bicicleta bonita na areia... Mais belas fotos. O pôr do sol maravilhoso. Tudo muito bom. Passou o stress... Hora de ir embora, felizes mas de volta ao ponto de ônibus, agora por volta de sete e meia da noite. Ficamos no ponto perto do fórum, em frente ao mercado. Deu oito horas o ônibus não passou, deu oito e meia e nada, nove e pouco... Ele foi passar. Conseguiu estragar tudo. Foi o tempo para comprar e beber um litro todo de coca cola, de ouvir e ouvir e ouvir falar mal da cidade por causa do transporte. Para aguentar tive que sair de perto dela e sentar longe. Quando chegamos em casa, parecia que não tínhamos feito nada. Toda a calma e tranquilidade conquistados na praia tinha ido por agua abaixo. Ainda bem que chegamos bem de noite. A noite todos os gatos são pardos e ela não reparou mais nos detalhes do bairro. Pois é. Será que ela tem razão? Tem sim. Ficar uma hora e quarenta num ponto esperando ônibus não é nada agradável, sem contar a ida. Imagine as pessoas que dependem deste transporte cotidianamente? Se fosse episódico isso... Mas não é. Se tudo funcionar direito os ônibus passam de meia em meia hora, o que já é muito pra esperar. Os horarios de trabalho tem que ae ajustar a isso. É um tal de sair dez minutos mais cedo porque se perder o das 5 só Deus sabe quando passa outro. Mas como disse antes, só durante a semana e de dia que se tem essa precaria referência, porque a noite e fins de semana é completamente aleatório. Pegar um onibus é questão de sorte. Uma completa falta de responsabilidade tanto com o morador como com o turista.
Hoje me pergunto porque as pessoas aceitam, não se indignam com isso, a acho que é porque é como a perda da visão. A medida que piora a gente vai forçando os olhos e se adaptando. Achando normal. Ate a cegueira completa. Por isso as criticas dos de fora as vezes tem mais sentido que as nossas. Estamos na caverna. Quem vem de fora sabe que lá fora tem luz. E quero luz na nossa caverna. Esse transporte tem que melhorar. Tem que ter mais e melhores ônibus, pode ter vlt tambem, porque nao? Tem uma ferrovia desativada que atravessa o municipio todo! Tem que ter progresso aqui também. A elite estamental daqui sugere que tudo ta bom assim e que quem não gostar que se mude. Não, não ta bom, não vou me mudar por pressao e nem me calar. E essa cidade que tem que melhorar tanto para seus moradores quanto para os veranistas e turistas.
Sugiro a todos, nessas vésperas de eleição, que perguntem a seus candidatos como pretendem melhorar o transporte do município. Quem gaguejar, já viu. Não quer problemas, apenas o salário. Fuja...
Rio de Janeiro, Olimpíadas, Brasil, Romance, Amor, Distância, São Paulo, Solidão, Arte, Cultura, Discriminação, Beleza, Negritude, Violência, Insegurança, Viagens, Turismo. História.Um blog que trata de tudo isso ao mesmo tempo.
domingo, 28 de agosto de 2016
A longa e dura espera (onibus em Itanhaém).
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
O lugarzinho pitoresco II
Logo que cheguei aqui, a uns 20 anos atrás, minha mae perguntou: você vai morar aqui? eu disse que sim. Ai ela falou, mas aqui com voz baixa e meio triste, mas aqui é uma favela filho... Naquela época eu não entendia o que ela quis dizer com aquilo e nem porquê tanta tristeza. Hoje entendo. E ela tinha razão. Mas eu precisava tanto de um lugar pra morar, pra chamar de meu, que qualquer um serviria. Até então eu era incapaz, como o fui durante muito tempo, de olhar a verdade desse lugar, de compara-lo com outros lugares. Sua função de abrigo cumpria? Então era o melhor lugar do mundo. Mas, a dialética não falha. E a contradição apareceu, na forma de outros olhares, das mulheres que passaram por minha vida, em especial do meu grande amor, a Fernanda. Pouco a pouco meu lugar comum foi sendo questionado...sempre mais, sempre profundamente, ate eu acordar do torpor sair da caverna. Jardim Oasis.
Se tu pegar um carro e vir Zanzando de Florianópolis até aqui, vai passar por muito mato e lugares estranhos. Mas ao entrar no jardim oásis perceberá que ele é o mais feio.
Se fizer o caminho do Rio, saindo do Irajá, até aqui, também. Como, porquê?
E até dentro da cidade, dificil achar um lugar tão estranho como o jardim oásis.
O fato é que o bairro é novo, casas por terminar, feitas sem qualquer padrão construtivo. Faltam cores, faltam verde, faltam muros, sobram poeira e sujeira pelas ruas. Calçadas irregulares, poças de água pelas ruas.. Realmente uma favela. Mas caracterizar não resolve nada. Resolve apontar os problemas que possam transformar esse bairro e essa cidade. Dota-la de qualidade de vida ao invés de apenas condições de sobrevivência.
O lugarzinho pitoresco 1
A galera daqui sempre reclama que falo muito do Rio de Janeiro e só do Rio, que não falo quase nada de Itanhaém. Pois bem, falo pouco daqui sim e tenho razões pra isso e vou explicar as razões. Ta passando da hora já mas vou adiantando, principalmente para os leitores daqui, que não sou alienado e que falo pouco daqui pra poupar as pessoas que amo, por ter um afeto muito grande pela cidade, pois falar daqui, quase sempre, desemboca em problemas. Os próximos textos vão mostrar porque isso. Tenho evitado mas tá na hora. Estou noivo de uma carioca, e ela vinha sempre pra cá. Estamos vivendo num cabo de guerra, ela puxando pra lá e eu pra cá. Nesse puxa puxa, tento proteger e ressaltar ao máximo os aspectos positivos de Itanhaém na esperança de convence-la a mudar pra cá. Mas de tanto apanhar nas comparações to desistindo disso. Não vou conseguir não. Em quase todos os aspectos tenho perdido no cabo de guerra.
Comparar Rio de Janeiro com Itanhaém pra mim sempre pareceu covardia. A monumentalidade da cidade do Rio em todos os aspectos contrastam com Itanhaém. Mas tem aspectos positivos aqui e negativos lá que poderiam facilitar fortalecer meu lado da corda. A tranqüilidade e a paz de Itanhaém assim como a balneabilidade maravilhosa de suas praias eram fortes apoios até uns dias atrás quando até esse consenso fácil foi abalado pela análise fria dos números desapaixonados. Falar muito do Rio entao têm sido há tempos uma forma de fugir daqui, de evitar o confronto direto. É como um pequeno animal acuado que fica quietinho diante predador voraz para não ser notado. Nao deveria ter pena de fazer a comparação pois Itanhaém tem mais idade que o RJ, e ja foi até a principal cidade do Brasil. Mas hoje no século 21, quanta diferença. Mas a titulo de introdução, fica a afirmação da ....a, num de seus lampejos de conhecimento: 'Itanhaém é como uma curva de rio, tudo quanto é tranqueira para ali... "Ela explicava assim a razão porque difícilmente quem mora em Itanhaém não sai daqui. Ela acha que só tranqueira fica aqui que quem está aqui é porque não tem capacidade pra conseguir viver em outro lugar. Está por condição, porque se pudesse escolher... Será? Eu avisei..e isso é só o começo...
domingo, 21 de agosto de 2016
O exército e a olimpíada.
A entrevista do jornal nacional com um general baixinho, quase chorando, me chamou atenção.
Vocês sabiam que o exército mantém um programa pra capacitação superior de atletas? Eles escolhem o atleta, mas dizem que ele entra por concurso, do mundo civil mesmo, levam ele prum curso de uns 45 dias donde o atleta vira sargento e sai de lá com um salário de 3000 reais por mês pra servir a pátria praticando esporte. Muitos dos atletas medalhistas saíram dessa fabriquinha. Que vcs acham disso?
sábado, 20 de agosto de 2016
E agora?
Essa olimpíada talvez seja a última grande obra do governo lula a ser apresentada. Mas a pergunta que não quer calar, como era o Rio antes da copa e da olimpíada e o que será dele agora, depois dos jogos... Os jogos paraolímpicos já tem tom de ressaca, de fim de festa. O governo federal já se mostra reticente em continuar injetando dinheiro no Rio. Os cariocas parece que vão sentir forte a derrocada do governo PT.
E agora?
De rolê por lá notei que a cidade respira samba e carnaval. Essa parece ter sido a tônica sempre da cidade. Mesmo sendo la a sede da Petrobras, da Vale do rio Doce, Da globo, de autarquias federais importantes, desde militares até empresas estatais.
Seriam suficientes essas empresas pra manterem sadia a economia da segunda maior cidade do Brasil? Do segundo maior agrupamento populacional do país?
Tomei contato com o Rio a menos de três anos. Em minhas recordações anteriores o Rio só aparecia no carnaval e já era. Lembro que uma vez imaginei o que seria do RJ se São Paulo começasse a fazer um carnaval melhor que o do Rio, talvez virasse um nada. Isso foi antes de desembarcar lá e ser enfeitiçado pela cidade. Hoje o temor de estar certo antes me incomoda. O Eduardo Paes falava isso antes das olimpíadas. O problema não são os jogos. O problema vai ser depois... O cara é bom. É visionário. Conversando com os jovens de lá, os que pensam em futuro só falam em virar militares ou trabalhar na Petrobras. Será que tem espaço pra todos nesses nichos? Do jeito que falam parece que sim, diferente daqui, SP. Mas parece. Lembrei de Niterói. É outro esquema lá, com estaleiros e uma forte indústria naval a economia do município se mantém equilibrada. Tem mais estabilidade que a cidade do Rio e um orgulhoso prefeito que era militante estudantil. Niterói é mais pé no chão que o Rio de Janeiro. Mas ali do ladinho tem São Gonçalo, cujos índices de violência são iguais aos da cidade do Rio ou até piores, e aí que tudo fica muito assustador para o futuro. Que política de segurança será adotada agora? Com que mote e com qual verba? Tentaram as upps para criar condições para a copa do mundo e a olimpíada mas antes mesmo dos jogos acontecerem já se percebia o fracasso do projeto. As histórias da Vila do João mostram que o estado ainda não existe na maior favela do Rio. Se com toda essa agitação pregressa, com todo o apoio logístico e financeiro das três esferas da federação o estado não conseguiu a paz ali, que esperar do futuro? Agora sem apoio do lula, sem nenhum grande espetáculo a promover? Tendo que olhar no espelho e se cuidar..
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
A assombração do acesso ensolarado.
É...
Como?
Uma saída, um acesso perto do centro do cidade, calçado, arborizado, bonito, com uma moderna passarela que sai dele e atravessa uma movimentada avenida, uma saída comum para uma vila com um nome comum, até meigo, a Vila do João.
Como um acesso desse pode se revelar um lugar tao tenebroso?
Uma saída da famosa linha amarela, já chegando no centro do Rio, uma das entradas para o complexo da mare revelou-se o lugar mais perigoso para qualquer pessoa passar. De dia ou de noite, de propósito ou sem querer, quem entrar na Vila do João poderá ser fuzilado. Parece filme de terror, uma loteria da morte, mas não é. Ele existe. Até uma viatura da guarda nacional foi fuzilada lá, e durante as olimpíadas! Qualquer um acharia que este seria o fim daquele poder paralelo tão assombroso, mas não foi. Mesmo com uma tal ocupação ostensiva de militares anunciada pelo governo, dois dias depois outra pessoa era alvejada no mesmo local depois de errar o endereço e cair na armadilha.
Sabe qual foi ae o estado achou? Sinalizou melhor o lugar - leia-se - bloqueou a rua. E mandou a empresa que administra a via amarela por uma placa informando que ali estava a famosa entrada da Vila do João. Ao invés de combater o crime, se adaptou a ele. Louco.. Doido... Rio 40° cidade louca..purgatório da beleza e do caos. E o soldado da guarda nacional? morreu. Assim como outras pessoas, baleadas covardemente por armas pesadas, por não perceberem que estavam entrando na... Vila do João. Já pensaram num filme de terror cuja cenário nao seja escuro e sim claro, brilhante .. Inusitado...diurno... Ou numa lenda urbana... O pai falando pro filho: cuidado...quando for pra ilha do governador, nunca entre na Vilá do João... Pois certamente acontecera algo de muito, muito ruim com você...que louco..
Reparem nas imagens, o contraste entre a entrada e a rua lá mais pra dentro do complexo..
Durante a copa do mundo o exército foi chamado a ajudar na "pacificação" do complexo. Ficaram lá até quando um soldado foi morto com um tiro na cabeça por traficantes. Ate agora o único militar do exército morto em combate desde a segunda guerra mundial. Saíram de lá, e prá na por todo o complexo abaixo, juraram nunca mais pisar lá. E, já ta incomodando usar esses termos, complexo... comunidade.. que nada, é tudo favela mesmo. E tem vida lá dentro...aeee galera de SP, o que lembra o cartaz das equipes? Kkkkk lá ainda rola essas paradas. Acho que todo mundo lembrou da Equipe Quilombo, dos bailes nas sedinhas e nas escolas. Lembram dos concursos das equipes? Tudo isso ja rolou muito em SP... No Rio, a história ainda não acabou.
sábado, 13 de agosto de 2016
Vila Mimosa
Hoje estava olhando imagens sobre o Rio e num artigo sobre o itinerário do trem bala que ligaria Rio a São Paulo, já chegando perto do centro do Rio,, "Vila Mimosa". Nome bonito para uma vila e como nunca tinha ouvido falar nesse nome fui pesquisar. Fiquei surpreso pois ali é a zona "oficial" do Rio de Janeiro. Mas olha que nome lindo... "Vila Mimosa". Se tivesse progredido a idéia o trem bala iria passar por cima da vila. Digitei Vila Mimosa no google e aí vários artigos. A zona é ali há uns 20 anos, desde que as primeiras garotas chegaram vindas do Estácio. Recém indenizadas pelo município, se uniram e compraram um galpão na praça das bandeiras, onde estão até hoje. Interessante num primeiro momento é notar que nome vila mimosa parece não ter a ver com o lugar e sim com a atividade. A economia local parece estar passando por uma crise. Os comerciantes reclamam que foi-se os tempos do uísque de 20, 30 reais, que agora as pessoas tomam uma cerveja, latão, e já era. A crise bateu forte. As meninas dizem que tem chapado apenas quando tem jogo do flamengo. Que os preços baixaram (mesmo nos jogos do Vasco o movimento não bomba)... A quem interessar, os quartos custam 20 reais em média e o programa 20 reais 20 minutos e 60 reais 60 minutos. Rs... Parece ser por minuto.. Estranhei, o que teria a ver uma coisa com outra, futebol com o movimento da zona? Pensei de início que a zona no Rio de Janeiro seria no centro, na região da lapa. Mas não era. Eu estava enganado. É perto do Maracanã e pela descrição de um dos artigos é um lugar antigo mas sem tradição nesta atividade. É que zona do Rio muda de endereço de acordo com os interesses do estado, da valorização imobiliária. Um desses artigos dizia que a zona já fora mudada até pra outro município (Duque de Caxias), mas voltou. Outro mostrou um projeto de urbanização pensado pra ela, bolado por uma ong. Mas ninguém ousa defender abertamente a formalização do trabalho ali exercido, apesar de ficar claro uma vedação total à prostituição infantil ali com o objetivo de se adequar à legislação, que por sinal não considera prostituição crime. Fiquei pensativo. Tem vários projetos sociais envolvidos com o cotidiano da prostituição desde projetos de cuidado com a saúde, passando por geração de empregos e profissionalização das meninas, até um sindicato das profissionais. Mas a arquitetura do local é feia e decadente. Será que o Eduardo Paes com sua modernidade visionária não conseguiria fomentar o belo ali também? Têm elementos pra isso. A rua e o comércio local já tem uma vocação cult, pois ali era e ainda é um reduto do rock no rio de janeiro, dos motoqueiros. Inclusive hoje eles temem perder essa identidade. Tudo a ver. Rock, rebeldia...aqueles loucos... Drogas...prostituição. Por favor, nao me venham com hipocrisia.. Cara, as drogas estão presentes em todo canto. Mas escondidas. Nesses locais ficam mais expostas. Isso não significa serem eles mais ou menos violentos. Significa apenas que existe uma permissividade maior. Uma menor intromissão e maior tolerância do estado. Infelizmente faz parte da vida das prostitutas a utilização do álcool e das drogas para enfrentar o próprio trabalho. Mas esse artigo sofre pois o que quero realmente falar é o seguinte. Porra, porque as pessoas não aceitam com naturalidade a prostituição? Sei lá... Eu acho que cada um cada um. Se existe esse trabalho se existe essa demanda deveria existir uma política pública para apoiar as pessoas dela participantes e criar segurança e bem estar para suas atividades. A área da zona deve ser revitalizada e mantida sua vocação. Isso também facilmente vira uma atracão turística como tudo no rio. A zona também deve ser bela. Até porque, até ali, 85% das pessoas ocupadas são afrodescendentes. Pois é... Vila Mimosa e Madureira tem algo em comum. O mesmo povo. E temos pensar em nosso povo, onde quer que esteja, e nas devidas compensações históricas e sociais a serem reclamadas. Se Amsterdã tem suas vitrines e Paris seus cabarés, o Rio tem Vila Mimosa, afirma a coordenadora do observatório da prostituição, da UFRJ, Soraya Silveira Simões e eu concordo plenamente. Assim, com igualdade, respeito e valoração deve ser vista e tratada Vila Mimosa.
domingo, 24 de julho de 2016
O rio visto pelos meninos do Irajá
Hoje eles tomaram um cerveja e estavam falantes. Ai resolveram me mandar a real. "Irajá é violento tambem, tem tanto crime como no resto do rio ou talvez mais". Eles disseram que tem muita coisa que a televisão não mostra. Coisas como as rixas de bairro e as brigas de torcida. Disseram os jovens que as pessoas de um bairro se forem descobertas em outro correm o risco de serem atacadas (?). Não entendi. Questionei a eles que se eu fosse morar no rio, então, se chegasse num bairro teria que ficar ali pra sempre? E trabalhar? Se fosse trabalhar em outro bairro aconteceria isso? Eles insistiram que sim. Lembrei das brigas de torcida na juventude, realmente tinha essas coisas, uma vila contra outra. Mas uma coisa era a molecada, outra os adultos. Mas ai, para os adultos tem as rixas das escolas de samba. Caraca.. Muita treta fácil. Mas o metrô e os ônibus lotados carregando as pessoas de lá pra cá, integrando a cidade toda com suas linhas, provam que esse conflito, se existir, não se estende a toda a população. Fui olhar as estatísticas de violência do Irajá e para surpresa minha foi o distrito policial do Irajá o que mais registrou ocorrências...Não entendi nada. Como o distrito de um bairro tão tranquilo registra tantas ocorrencias? É porque a delegacia do Irajá é responsável por assistir a comunidade do chapadão, que não é no Irajá e que ali sim tem um alto índice de violência. E não só a do. Chapadão, tem outras também. Ai deu pra entender. Lendo pelos números da delegacia então o lugar mais violento do Rio é o Irajá. Mesmo sendo o bairro mais tranquilo do Rio. Impressionante como números sem contextualização podem induzir a erros.
quinta-feira, 21 de julho de 2016
RJ x SP (dialeto)
Encher
RJ = bombar
SP = chapar
Orçamento
RJ = orrchamiento
SP = orssamento
As coisas
RJ = ashs cojxas
SP = as coizas
Bolachas ou biscoitos
RJ = bishcoitochs
SP = bolachas
Horas
RJ = horachs
SP= horas
Cuspideira
RJ = cuschpidera
SP = cuspidera
Festa
RJ = feschta
SP = fessta
Encosto
RJ = encoshto
SP = encosto
Mesmo
RJ = mermu
SP = mesmo
Torneira
RJ= bica
SP= torneira
Perto
RJ = piértu
SP = perto
Varal
RJ = corrda
SP = varal
Amigo
RJ = bróder
SP = mano
Confirmar
RJ = já ė
SP = ok
Carne de porco
RJ = carré
SP = carne de porco
Feijão carioca
RJ = mulatinho
SP = carioca
Conserto mal feito
RJ = norrmal
SP = gambiarra, carioquinha
Malha simples
RJ = blusa
SP = camiseta
Problema sério.
RJ = pica
Sp = treta, zica
Complicou?
RJ = deu merrda, deu ruim
SP = fodeu, foi mal
Colar
RJ = corrdão
SP = gargantilha
Favela
RJ = comunidade
SP = quebrada/favela
Bairro afastado do centro
RJ = subúrbio
SP = periferia
Bacana/legal
RJ = show
SP = beleza
Sair/ir
RJ = meter o pé
SP = sair fora
domingo, 17 de julho de 2016
Cara, da pra qualquer um ir, di boa.
Bom... O negócio é o seguinte. Em minhas aventuras e andanças pelo Rio de Janeiro aprendi algumas coisas que podem ser úteis a meus familiares, parentes e amigos, assim como leitores ocasionais.
Hoje vou falar uma das coisas mais importantes e interessantes que aprendi, e que, até os cariocas desconhecem: É que é possível a qualquer pessoa simples como eu fazer um passeio inesquecível na parte mais bonita e segura da cidade maravilhosa com menos de mil reais.
Apesar de todas as críticas e comentários negativos, existe consenso de que o Rio é o segundo destino mais bonito do turismo mundial mesmo que eu, particularmente ache que não é o segundo não, é simplesmente o lugar mais bonito do mundo para o turismo e talvez com o maior leque de opções de passeios.
Muitos se privam de conhecer este lindo e polêmico lugar por medo da violência urbana ou por desconhecer e superestimar os custos de se passear no Rio. Para quem tem vontade de conhecer as belezas desse lindo lugar, o que tenho a oferecer é um roteiro. Um roteiro experimentado, rico, seguro e acessível que se cumpre com menos de mil reais.
Seguindo este roteiro da pra passar um fim de semana maravilhoso tirando fotos em passeios inesquecíveis, comendo boa comida, hospedagem simples e confortável e ainda uma gostosa balada noturna pra fechar com chave de ouro. E insisto, com bastante segurança.
Vamos então? De avião? Tá de brincadeira né? Dizem que é barato, mas só em horários contramão, além de terem as taxas.. Acaba ficando bem mais caro que de ônibus. De carro ? Não. Se quiser ir de carro ou de avião já começou errado.
Pobre anda de ônibus. Deixa de coisa. Mas se quiser insistir na burrada, eis os custos: De carro vai gastar mais ou menos 50 reais de pedágio e uns 200 de combustível num carro popular. Vai morrer com uns quinhentos mangos de transporte só pra chegar lá e voltar. Depois mais uns 80 de estacionamento (estapar, no passeio, por dois dias) e ainda perder várias horas em engarrafamentos pela avenida Brasil ou qualquer outra além de correr o risco de ser roubado num semáforo.
Bobagem. De busao sai 180 todo de percurso de ida e volta sem dor de cabeca.
Cara... Deixa o carro em casa e vem comigo. C não vai se arrepender..
Vamos pro Tietê em SP e la a gente pega o busão pro Rio de Janeiro. Tem várias opções de viações e são todas boas. Os ônibus são confortáveis. Mas tem algumas diferenças entre eles:
1) O ponto de parada durante a viagem ( normalmente uns 40 minutos) muda de viação pra viação. O que acho mais bonito é o de Queluz, onde a viação caiçara faz parada. Um lindo prédio colonial a beira do sistema hidroelétrico de furnas, nas margens do rio com o mesmo nome. Paisagem linda, se bater fome, desembolse uns 30 mangos e coma umas fatias de picanha suína assada. Delícia. E já pode começar a tirar fotos.
2) Se for maníaco por internet, repare que tem viações em que os ônibus tem carregadores de celular em todas as poltronas e outros em apenas alguns locais. Atente a isso antes de comprar a passagem. Se a bateria acabar vai dar ruim.
3) As poltronas variam de tamanho. Se voce não for de leito ( 130 a 150)pode ir de executivo (100 a 115) ou convencional (89 ). Neste ítem é bom saber que as empresas pra lotarem os ônibus executivos vira e mexe vendem as passagens destes por preço de convencional. Beleza.. A gente acaba viajando em ônibus executivos pagando por convencionais quase sempre. Essa classificação só funciona mesmo na altíssima temporada, réveillon e carnaval, quando os ônibus todos lotam. Os melhores são os da 1001 em sofisticação e os da caiçara tem as maiores poltronas em média.
4) Vamos perguntar ao motorista se ele vai pela linha vermelha ou pela avenida Brasil. Essa informação faz toda diferença na chegada.
Se o ônibus for pela linha vermelha vamos por cima da baia daguanabara direto pra rodoviária. Se não, vamos pela avenida Brasil. Por ai a gente chega na rodoviária também mas têm um desviozinho bom pra evitar passar na parte perigosa da famosa av Brasil. Dois caminhos, duas opções de acesso a cidade. Normalmente os caiçara vão pela linha vermelha os demais pela av. Brasil. Mas sempre é bom confirmar.
E que horário viajar? Bom se conseguirmos sair sexta feira durante o dia é boa pedida. Se for de manhã melhor ainda pois da pra aproveitarmos duas diárias completas nos hoteizinhos (100 reais em media a diária com café da manhã incluso em quarto de casal ) nas imediações da.. Lapa...show. As diárias são das 12 as 12 horas. Então horário bom pra sair é sexta feira de manhã. Seis horas e meia de viagem quando chegarmos ao rio e sentir aquele calorão tipico, da hora, a primeira providência é ir para o hotel, tomar um banho relaxante, guardar as mochilas e trocar de roupa pra continuar a vibe. Como? Se formos pela linha vermelha, é direto pra rodoviária. Lá a gente pega o vlt, ate a estação Cinelândia. Chegando lá atravessamos a praça e descemos pra lapa. Centrão, gente pra cacete, polícia pra todo lado, longe dos morros. Tranqüilo... Mesma coisa que centro de SP. Corre os mesmos riscos de ser roubado por um trombadinha mas nada de bala perdida ou arrastão ou qualquer merda dessas. Podemos andar di boa até a lapa. Lá escolher um hotelzinho, guardar as coisas toma banho põe roupa leve.
Aeeeee agora sim vamos dar um role.
Bom se o sol ainda estiver claro, voltamos até a estação Cinelândia mas agora vamos pegar o metrô pra Copacabana. Levamos ai uns cinqüenta reais no bolso, celular pras fotos e mais nada. Podemos ir pra qualquer praia dessas e tomar as primeiras cervejas na cidade maravilhosa. Da pra alugar umas cadeiras na areia, 10 reais e curtir ate anoitecer di boa. Cansou? Agora balada. De volta ao metrô, lapa. Chegando lá já vamos perceber a muvuca dos barzinhos. Delícia. Só trocar de roupas no hotel e e ali mesmo escolher a vibe. Se tiver com fome tem vários restaurantes com preços bons e comida boa. Em media 12 o pf e a cerveja geladinha 6 a 8. Se ainda achar caro tem bobs, mac donalds, padarias e supermercados. Você vai perceber que está na melhor noite do Brasil. Pagode, samba, shows, teatros, museus, bares e até festa charme. Cara que noite....
Tá. Jantamos, curtimos, você perdeu o medo, se ambientou aí logo cedo no sábado vamos ao Cristo redentor... Facim... Pegar o metrô, descer na estação largo do machado. Tá tudo pronto. Tem vans turísticas pro Cristo e pro corcovado, média de 40 reais a passagem com ingresso incluso. Deixa a gente lá no Cristo depois de um lindo passeio pela floresta urbana mais chique do mundo, a floresta da Tijuca. Lá em cima lindas fotos, brindes pra qualquer bolso e a sensação de estar no Rio, no Cristo, não tem preço. Da pra ficar o tempo que quiser... O retorno já tá incluído na passagem. Descendo, se tiver cedo da pra pega a van do corcovado. Ai tem teleférico e tudo...cara...a tarde tá vindo... Gastamos ai uns 120 reais em refris lanches e passagens. Agora economizar. Já conhecemos a alma do Rio. Agora de volta pro hotel, banho, janta ou almoço e de novo a Cinelândia. Agora vlt e praça Mauá. Vamos ver o museu do amanhã. Anoitecer vendo a ponte rio Niterói o museu de arte do rio. Cenário lindo. Mais milhares de fotos.
Gastamos mais o que? Mais uns 9 reais. Apenas a passagem. De volta ao vlt, rumo ao centro, de novo. Eu nao vou mas se tiver a fim, fim de noite no bar garota de Ipanema é uma boa pedida. Desce na estação Bartolomeu Mitre, e rumo a Ipanema... Dois quarteirões e praia. Ai é caro. Só falo desse point porque tem uns malucos que fazem qüestão por causa da bossa nova. Mas os caras nao tem do la nao, cerveja caríssima e pratos lunares.... Em compensação, saber que ali é o berço da bossa nova novamente não tem preço.
Vamos pra casa.. lapa..ultima noite do fim de semana...e a melhor. É sábado.. A lapa ferve.. Delicia. Sem comentários. Domingo de manhã, vamos levantar cedo toma café e ir a pe da lapa pela glória até o catete. É uma caminhada historica e gostosa pelo centro velho. Bares, museus, casarões do tempo que ali era capital do reino. Brasil imperial. Se curtir, varias fotos. É um percurso onde a arquitetura e a historia colonial parecem vivos no presente. Ou tem mais uma opção ainda ali mesmo: O bondinho de santa Tereza. Ali no começo dos arcos da lapa bem na frente da Petrobras, da sede, o ponto do bondinho de santa Tereza. Passeio pitoresco e gostoso. Vamos lá que na volta, no caminho, ainda tem a escadaria de saleron. É tudo de graça. Show show show..
Pronto.. Conhecemos muitas partes lindas do RJ. Tem muitos outros lugares e coisas legais pra ver. Note que andamos de metro, vlt e van. Sabe por que? Esse é o sistema mais seguro e políciado de transporte. Custos: vamos totalizar pra ver:
Ônibus ida e volta: 180
4 refeiçoes+refri+cerva: 120
Passeio no Cristo e no corcovado: 120
Entrada nos museus: 50
Passagens vlt e metro: 50
Hospedagem: 200
Total: 720.00... Para os mil ainda sobraram 280 pra cachaça...
Aeeee.
Se quiserem um guia monta o grupo e me chama...
Cara ainda faltou uma par de coisa. Quando ver tudo direitinho mando um texto. Ah, tenho contatos dos hoteizinhos. São simples básicos e baratos. Apenas pra servir de apoio mesmo pro role. Mas um casal pode se deliciar nesta vibe. Ah..esse roteiro é totalmente familiar. Da pra fazer di boa com as crianças.
Fuiii
Ahhh...já ia esquecendo... O desvio da av Brasil. Se o busão for pela av Brasil saiba que esta é onde tem aquelas tretas feias...balas perdidas..tiroteio etc. Se quiser desviar, desça no shopping via Brasil, no Irajá. Pega um busao na frente do shopping rumo a Madureira. Peça ao motorista para desembarcar na estação Irajá do metrô. Assim vc evita a parte ruim da av. Brasil por um desvio num bairro tranquilo, Irajá. Ai vc já sabe... Pega o metro e desce na Cinelândia. Dai só festa.
Boa viagem.
quarta-feira, 13 de julho de 2016
O tamanho da mágoa.
Conheci Marcelo num supermercado do Irajá, trabalhando como anunciante. Magro, negro, grisalho, alto, carioca da gema, nunca tinha ido nem ao Cristo Redentor nem ao bonde de Santa Tereza nem a atração turística nenhuma, aliás, pra ele nada disso era para as pessoas como ele.
Achava que deveria ser caro demais. Quando lhe disse quanto custava um passeio desses ele até estranhou. Mas mesmo sendo barato e acessível aos nativos, algo o impedia sequer de querer participar destes roteiros turísticos ou outro qualquer do Rio de Janeiro. Roteiros tão preciosos a qualquer viajante do mundo e talvez em caso de disposição, passeios domésticos simplesmente deslumbrantes. O que seria esse algo, porque essa aversão?
Quis e precisei entender isso, conhecimento que talvez ajudasse a explicar as razões da freqüência quase insignificante de pessoas negras como vistantes em todos estes roteiros. Isto sempre me intrigou muito. Cara...O Marcelo expôs depois o Norton confirmou com explicações garrafais o sentimento de distanciamento desses roteiros vivido pelos cariocas mais simples. Eles imaginam que essas atividades como acessíveis apenas a uma certa "elite" e mais, essa conversa confirmou as evidências anteriores que indicavam a existência de um ressentimento, uma mágoa do povo mais simples do rio para com sua cidade.
Esse ressentimento, essa mágoa não são nem pequenos nem novos. E é tão intenso que faz sua vítimas indiferentes e até refratários ao "progresso" e às belezas tão cantadas de sua linda cidade.
Exemplo desta refração é a falta de apreco pelas melhorias conquistadas em função do chamado "legado olímpico" que dotou o rio de modernidade não percebidas nem nos tempos de capital. Essas modernidades são solenemente ignoradas por estas pessoas.
Vamos lá então aos elementos probatórios desta tese: Falando com o Marcelo e exortando as belezas do rio ( vlt, bonde, metro novo, parque Deodoro, trans olímpica, atracoes turisticas tal cristo redentor, praias, etc) ouvi dele que aquilo não era pra ele, depois o Norton confirmou também, que todo o charme desses passeios, novidades dessas obras assim como a festa olimpíca não era também pra ele. Ai o nó começou a desatar. Mesmo sendo ambos cariocas, mesmo não sendo moradores de morros, mesmo sendo bem informados, mesmo tendo certo poder aquisitivo, mesmo assim não conseguem viver, aproveitar o/ou valorizar a presença dos jogos olímpicos em sua cidade. Marcelo explicou que investiram muito nesses jogos mas que não se justifica gastar tanto com jogos quando os hospitais para a população não estão funcionando. E ademais esses investimentos foram feitos no centro. Cadê a segurança no subúrbio, nos morros? Ele Não reclama da truculência dos policiais não. Ele reclama da ausência do poder público no subúrbio. Diz que o centro, a zona sul e parte da zona norte estão por ora seguros e bem policiados. E a zona oeste? A maior de todas, a que concentra o maior número de habitantes, a mais pobre e mais violenta? Nem metrô, nem vlt, nem reformas embelezadoras foram vistas por lá . O que foi feito por lá? Uma das praças olímpicas, Deodoro e a rodovia transolímpica ligando Deodoro ao centro. A promessa de uma linha de BRT ligando toda aquela regiao ao centro por enquanto é sô promessa e olha que para isto eram necessárias apenas adaptações viárias. O problema é que deodoro está em apenas uma das tantas macro regiões pobres da zona oeste e a mais próxima da região central já toda resolvida. Dai a transolimpica facilitar o acesso ao centro não significa melhoria substancial quase nenhuma no desenvolvimento do conjunto desta região ( na verdade, se perguntass às pessoas elas responderiam desejar mais investimento em saúde e segurança). O porto maravilha chama muito atenção pelos museus, VLT, túnel... Mas pra quem é útil? Apenas ao turismo. Aos ja tão beneficiados setores hoteleiros da região central, e a grandes empreendimentos imobiliários ainda no centro. E a grande massa da baixada? Continua sem segurança, sem hospitais, sem lazer e sem perspectiva. Nestes acende a revolta e o questionamento sobre a importância destes investimentos da olimpíada.
Olhando de fora poderíamos ingenuamente supor que o povo do rio de janeiro realmente vive dividido entre a beleza e o caos. Mas na verdade essa divisão existe apenas para quem vê de fora, pois a distância da periferia e do cotidano do carioca pelo visitante ocasional confere a possibilidade de uma visão acritica da cidade permitindo assim viver os prazeres do turismo sem pensar numa utilizacao diferente desses investimentos, à luz das necessidades mais cotidanas dos moradores.
Mas quem vive e vê de dentro pra fora a realidade do Rio de Janeiro têm certeza e pronuncia com uma segurança surpreendente: foda-se olimpíadas e tudo mais relacionado a ela, pois ela não ajuda em nada ao conjunto do povo carioca até piora a vida das comunidades pois os créditos gastos em obras olímpicas faltarão à obras de melhoria cotidiana.
Como bem lembrou Marcelo "Porra quem não viu que as três reformas do maracanã não tinham sentido nenhum? Além de cada uma delas custar o mesmo que derrubar um e construir outro, pra que esse investimento quando o município tem que conviver com a falência da saúde publica, da segurança e da educação? Pra que investir tanto num estádio?"
Esse raciocínio infelizmente é valido a todas as obras olímpicas.
Hoje o Eduardo Paes estava no jornal e questionaram ele sobre sua afirmação de que quem fala mal do rio deveria ir embora. Sacanagem dele se ele realmente afirmou isto. Admiro este prefeito que tanto conseguiu arrancar do estado verbas para o que entendia como melhoria do municipio. Mas ao que tudo indica lhe falta compreensão e talvez empatia com os principais interessados nas melhorias do Rio. Seu próprio povo.
Quem ta falando mal do rio, quem não consegue aceitar tantas incoerências nesse caso são os verdadeiros cariocas, os que nasceram no Rio mesmo e que tem esse lugar como lar. Não são os turistas eventuais. São as pessoas que estão aqui antes e estarão aqui depois das olimpíadas.
Deu pra entender porquê uma violência tão sem limites assola o cotidiano desta cidade? As pessoas não tem sentido amor por ela. Tem sentido é muita mágoa e desesperança. Um evento tão grande e tão importante como as olimpíadas não conseguiu catalizar o amor das pessoas pela cidade e suas belezas numa corrente positiva e festiva. Pelo contrário, exacerbou as feridas geradas pela discriminação e reafirmou o complexo de inferioridade da população em relação aos turistas. Afinal, é tudo pra eles e pros ricos e turistas, e nós, o povo, que será de nós?...
"Rio 40 graus, cidade maravilha purgatório da beleza e do caos".
Para o carioca não existe beleza possível diante de tanta miséria. E diante da falta de perspectivas de vida, reclamar bom senso ou lógica tanto do cidadão comum como dos policiais, criminosos e servidores públicos, como queria o secretário de segurança, beira a comicidade.
Só assim da pra entender a naturalidade com que os grevistas e manifestantes destroem sua cidade para o mundo todo ver. Tanto faz pra eles. Enquanto nosso mundo for essa merda, que se foda o resto também. Pra ele, o cidadão comum, não faz diferença mesmo.
Mas a título de epílogo, é impressionante como o resto do Brasil e porque nao dizer do mundo
ama e idolatra o Rio de Janeiro. Apesar de toda violência, de todos os senões, os investimentos nacionais nestes eventos tem sido espetaculares. Será que essa exclusão de que tanto padece o cidadão comum também é provocada pela necessidade nacional de manter uma bela vitrine para si e para o Brasil no mundo promovendo então investimentos massivos no turismo carioca sempre nos lugares já consagrados? Desprestigiado assim os outros aspectos da cidade?
sábado, 9 de julho de 2016
O lixo
Eu (todo empolgado)-Cara que vc achou do rio?
Ela (toda empolgada)-ah, eu já fui em Macaé, Paraty.. Muito legal..
Eu (curioso)-ah, tá. Mas eu tava perguntado do rio mesmo, da cidade do rio de janeiro..
Ela (sem jeito)-é ate bonita mas é meio suja né? Não sei....
Outro dialogo:
Eu (questionando) - mas é muito bonito, Copacabana e Ipanema..
Ele (respondendo) - é sim mas só andar dois quarteirões pra dentro e vira uma imundície. Mais sujo que o centro de são Paulo.
Outro dialogo:
Numa praça, atrás do circo voador.
Nos (empolgados): - olha lá, que pracinha da hora, vamos tirar fotos lá..
Fomos, alguns segundos depois.
Nos(enojados) - que fedor de merda e mijo da porra...vamos embora daqui..rápido..nossa..
Só passou o cheiro a umas dezenas de metros da praça.
Uma situação: no Grajaú..
Eu (incomodado) caraca amor vamos que ter pegar o ônibus nesse ponto mesmo?
Ela (sem entender) sim, porquê?
Eu (sem jeito) é que pelo menos no outro ponto não tem essa montanha de lixo ao lado...nossa amor! Não tem limpeza publica aqui não?
Ela(explicando) lá no Irajá tem. Lixeiro passa todo dia...
Eu( meio cético) ah, ta...aqui deve passar também...
Difícil ate comentar.
Manchete dos jornais esses dias: Prefeitura do rio não vai entregar nenhuma obra do legado de meio ambiente....
quarta-feira, 6 de julho de 2016
O purgatório da beleza e do caos.
Os primeiros 1500 soldados da guarda nacional chegaram ao Rio ontem para iniciar os trabalhos na segurança das instalações olímpicas. Ao chegarem, logo no primeiro dia, quando ainda estavam fazendo reconhecimento, uma de suas viaturas tomou um tiro no retrovisor ao passar pela via amarela. Uns dizem que foi bala perdida outros que chegaram a trocar tiros com bandidos. Mas o fato é que chegaram já sentindo o calor carioca em sua plenitude. Como bem preveniu Paes, aqui não ė Londres, nem Paris, aqui é Rio de Janeiro.
Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos.
No jornal de ontem percebi porque o Eduardo Paes acha que já deu certo as olimpíadas: porque mesmo com todo drama, com toda a lama, com toda a trama, o rio ta com 95 por cento das vagas da rede hoteleira já reservadas pras olimpíadas. Que doido... O mundo, mesmo com todo risco que corre, quer viver um pouco do clima e da,beleza do RJ.
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Prenuncio do fim
A paixão esta acabando. Infelizmente o que era muito divertido, comentar o mundo, o universo mental e cultural, a politica e o cotidiano dos cariocas esta desembocando em profundas decepções com as visões de mundo dominantes ali. De vez em quando já tendo a aceitar as razões que fizeram algumas pessoas que conheci por aqui dizerem que não querem pisar nunca mais no Rio de Janeiro. Foram vítimas em algum momento de uma explosão de furia, as vezes inexplicavel, quase sempre incompreensivel que tentarei demonstrar as origens. Vamos aos fatos: Com as olimpíadas chegando era de se esperar que o Estado do Rio chantageasse o governo federal, se achar melhor, reivindicasse mais alguma ajuda. Mas precisava ser daquela forma? Com o governador indo a público, sem nenhum pudor, decretando estado de calamidade bem nas vésperas de uma olimpíada?
Com um governador assim como esperar algum envolvimento afetivo dos funcionários públicos com a festa que estava sendo organizada? Que respeito, que carinho, que amor tem pela sua tão linda cidade os policiais que sitiam o aeroporto internacional com imagens mórbidas de violência insistindo em macular um lugar em que as pessoas são vistas como um povo pacífico e amigo, que brinca e é feliz?
E essa imagem é verdadeira. Quem desembarca aqui e principalmente no Rio sente logo de cara. Somos assim mesmo apesar do massacre midiático, do sensacionalismo barato da imprensa. Será que esse policiais não tem noção de que estão tentando destruir a alma do povo carioca? Talvez ate tenham, mas o modelo que vem de cima inspira essas torpezas. Mas felizmente como trata-se de estado de espirito, nem eles nem essa forma tosca de governo hão de apagar o brilho desse povo.
O alimento da contradição fica mais claro percebendo como os gestores pensam o povo carioca. Vejam a transolimpica, que deveria ser orgulho para o povo às suas margens, ela ficou pronta mas até as olimpíadas só vai usar a rodovia e o BRT dela quem tiver convite para os eventos e o staff dos jogos. Quando li isso não quis acreditar. Pensei, e o povo? Sei lá o que esses gestores malucos do Rio pensam mas esta claro a naturalidade com que segregam a própria população. Lembrou-me as castas indianas. Essas ai presepadas do prefeito. Aí a gente começa a entender porquê o carioca ser tão violento e reativo em suas posturas. É porque na medida da discriminação vem a reação. Um povo que vive numa cidade linda mas cuja situação econômica os obriga a serem serviçais dos turistas, a preservarem o melhor de sua terra ao visitante, de viverem discriminados pelo próprio estado que se encarrega de criar os muros a serem derrubados quando tenta na marra separar as pessoas nos espaços públicos no intuito de achar que assim preserva uma certa, sei lá, civilização em alguns locais seletos, normalmente os mais belos da cidade?Esse povo têm sim que olhar com ressentimento e alguma inveja um lugar onde, apesar de não ter a história nem a beleza do rio, e que talvez porisso mesmo que apareça esse tipo de discriminação tão descarada, tao latente. Onde a luta de classes tende a se dar entre classes e não entre castas.
Ta fácil de entender o que é viver no Rio. Um paraíso tropical, lindo e gostoso, mas com nervos a flor da pele. Uma palavra descuidada, uma situação de inconveniência qualquer já pode motivar uma explosão. Um paulista pro carioca nao é um turista. É um cara cheio de direitos, com ética dura, que num ambiente desses é fácil ser mal entendido. A fenomenal educação do povo carioca responde por uma necessária solidariedade entre iguais, entre o povo sofrido e discriminado do Rio de Janeiro. Utilizada como atrativo aos turistas é espetacular. Mas como paulista nao é turista... Difícil. Com certa naturalidade qualquer ação deste pode ser entendida como provocação que desperta uma ira contida turbinada pela convivência tranqüila com a violência... O resto será, talvez, apenas mais uma manchete numa página policial. Veja que são impressões colhidas de lá pra ca, ou seja , o olhar do carioca. Mas aqui em SP também existe discriminação. Olhe a diferença entre o metro que vai pro butantã e o que vai pro campo limpo. Logo uma boa reflexão a se fazer é a de um comentarista do Rio que diz que "não é o carioca que exagera nas mazelas, são os paulistas que não querem ver sua realidade." Será?
Corinthians e flamengo.
(Uol) Ontem, o Corinthians goleou o Flamengo por 4 a 0 e chegou aos 25 pontos,...
(O globo-rj) Flamengo é humilhado pelo Corinthians em São Paulo.
Rubro-negro começa o jogo bem, mas se desestabiliza e leva 4 a 0.
As duas formas de apresentar o resultado de um mesmo jogo diz muito sobre as diferenças entre os cariocas e os paulistas. O jornal paulista apenas apresentou o resultado e a vantagem obtida pelo vencedor. Não se vê nesta descrição adjetivações qualitativas nem depreciativas sobre o vencedor nem sobre o derrotado. Mas o jornal carioca tinha que tocar lenha na fogueira. Descreveu o resultado como uma humilhação para o flamengo, e de tabela para os cariocas que neste momento eram representados pelo time, o famoso rio x sp; descreveu como se deliberadamente os paulistas impusessem uma humilhação aos cariocas com a vitória num simples jogo de futebol. Não fica difícil perceber que mesmo diante do respeito e de qualquer fair play que o time paulista rendesse ao carioca, este de qualquer, de qualquer forma se sentiria humilhado não necessariamente pela derrota e sim por ser derrotado por um time de sp.
E ainda diz que o flamengo se desestabiliza durante o jogo, ou seja, começou bem mas como se ficasse com medo ou coisa assim, desandou. Da forma colocada, pareceu que o time estava indo pruma guerra. Típico dos cariocas. Tentar rebaixar, menosprezar de forma irresponsável os interlocutores em qualquer situação e depois enfeitar o pavão na hora que a boca esquenta, tentar relativizar as merdas que falam e pensam.
Os termos acerbam uma mágoa crônica que alimentam em ressentimento aos paulistas. Há que se estudar como e porque isso é tão generalizado por lá a ponto de chegar até os textos da chamada "grande imprensa".
terça-feira, 21 de junho de 2016
A batata esta assando
O Beltrame e o Paes tão brigando. Cara é louco ver a cara de cansado do secretário de segurança pública do Rio dizendo que a polícia tá agindo mas que o as pessoas estão descontroladas. Que as pessoas nao respeitam limites. Que andam pela estação com armas na mão ao lado do quartel da polícia. Caraca quanta impotência. Então vem o prefeito e explica que a maior parte dos custos da olimpíada está sendo pago pela prefeitura e que a segurança é atribuição do governo do estado. E pra alfinetar mais ainda diz que suas contas estão em dia. É.. muita areia pro caminhão dos cariocas..kkkk
domingo, 19 de junho de 2016
A mulher do beto
A uns anos atrás o Beto veio morar na casa ao lado. Havia se casado recentemente e trouxe sua nova esposa. Uma moça alta, fina, que se vestia muito bem, branca, corpo esbelto. Muito bonita. Na época conversamos e ela parecia muito bem formada e informada. Me perguntei o que fez ela vir morar com o Beto no oásis. Não entendi muito bem. Uns dois anos depois, já separada do Beto, conversando como amigos ela explicou que conheceu o Beto em Peruibe, ele sempre de carro mais ou menos. Aí ele falou que alugou uma casa no jardim oásis, em itanhaem, casa nova. Pensei que o oásis de itanhaem fosse a mesma coisa que o de peruibe. Em peruibe, o oásis é um condomínio fechado de alto padrão... quando cheguei aqui, já casada, era tarde pra me arrepender...
Ai eu so pude rir... kkkk
Ela voltou para peruibe, pra casa dos pais...foi uma das primeiras pessoas que definiram para mim esse lugar como uma merda. Que eu teria que ir embora daqui. Ela foi. Nunca mais pisou aqui.
terça-feira, 7 de junho de 2016
O vlt
Ontem cheio de alegria vi o início do funcionamento do vlt no rio. Fiquei feliz pois acompanhei parte das obras, vi até os trens novinhos pichados lá nos estacionamentos perto da rodoviária. Mais show ainda é que acho que eles farão a integração da rodoviária com o resto do centro da cidade, principalmente com a lapa, o lugar mais gostoso do rio.
Uma composição do Vlt, nome moderno do antigo bondinho, tem vários vagões grandões e com ar condicionado, carregam gente pra cacete com conforto e silêncio. Um verdadeiro metro de superficie. Imagem linda ele passando em frente ao MAR e ao Museu do amanhã na praça Mauá, mostrando talvez as melhores obras geradas para as olimpíadas do rio. Jogaram na cara né. Pensei.
Mas, como sempre tem um mas, não podia deixar de acontecer alguma merda. Afinal estamos no Rio de Janeiro onde a última preocupação do prefeito é saber se tá tudo certo, tudo conferido como deveria ser antes de inaugurar uma obra desse porte que envolve milhares de usuários. Parece que ele pensa assim em sua pressa de mostrar trabalho: inaugura logo, atropelando tudo, arruma uns panquecas ai pra experimentar, se der certo maneiro, show. Se der ruim, não vai ser a primeira vez né?
Pois entao, logo no primeiro dia, antes do final da tarde, o sistema pifou... como diria tim maia, parou.
Ficou todo mundo na rua, cachoeira.
Quebrou.
Acabou a energia e o vlt deixou as pessoas a pé pelas ruas...desoladora a imagem das pessoas descendo do trenzinho tão enfeitado pra terminar a viagem a pé. A frustração estava estampada no rosto das pessoas.
Oh meu rei... oh Eduardo Paes...que vergonha..
Mas to torcendo pra dar certo. Tomara que esse seja um problema pontual. E que esses trens não provoquem nenhuma tragédia espetacular apesar da reportagem apresentar uma informação no mínimo preocupante: O vlt vai transitar em meio ao transito normal da cidade tendo inclusive que parar nos semáforos. Cara agora pense num desses motorneiros chapados, preocupados com os salários atrasados, ver o farol amarelo a passar direto com seu pequeno veículo de vários vagões? vai ser o dia que o romântico bondinho virara o monstruoso mamute, do speed racer (quem viu lembra, desenhinho animado antigo).
É muita treta.